sexta-feira, 30 de abril de 2010

DEPOIMENTO DE ELISA FRANCO DE LACERDA





Paraizo!
Como é bom recordar os melhores momentos da minha infância vividos literalmente no Paraizo!
Que férias eram aquelas que só conseguimos resgatar em nossas memórias, visto que nossos filhos e nossos netos, embora tenham passado férias na fazenda, já não puderam usufruir das mesmas regalias que tivemos!

Me lembro de tanta coisa que nem sei por onde começar....
Passei um bom tempo da minha infância morando na fazenda, o que não era realmente meu sonho, principalmente quando os primos voltavam para São Paulo e ficávamos naquele imenso casarão, eu e Beatriz, aguardando ansiosamente as próximas férias.

Por incrível que pareça, nessa época eu adorava acordar de madrugada para ir ao curral com os primos tirar leite da vaca com o Newton, para depois tomarmos quentinho...bom, eu nunca gostei de leite, então o que fazia era “surrupiar um dedinho de cognac ou whisky" do papai, colocar no fundo do copo e depois tomar junto com o leite! Eu não podia ficar atrás de todo mundo , não é mesmo?

Na época em que morei na fazenda, uma coisa que me lembro até hoje eram as frias manhãs ensolaradas, o lago às vezes com uma finíssima camada de gelo que, ao se dissolver, formava uma linda cortina de fumaça, os campos de capim gordura totalmente congelados à beira da estrada quando íamos para o Colégio. Papai brincava sempre que tínhamos que abaixar a cabeça quando passávamos embaixo de um grande cano...

Nunca vou me esquecer de como nos divertíamos com os primos, amigos dos primos e nossas amigas!
Eram sempre 2 turmas: a dos grandes, formada por Roberto, Carlos, Fernando, Marcelo, Leme, Max e Vergueiro e a dos pequenos, que eram Buba, Luiz, Eu Beatriz, Eduardo, Vera Heloisa, Gogó, Carmem e a Bau (Maria Isabel de Castro Lima). Embora os amigos não estivessem presentes ao mesmo tempo em todas as férias, posso dizer que todos que citei aqui certamente afirmarão que as melhores férias que tiveram na infância foram as passadas na Fazenda Paraizo.

As brincadeiras de mocinho e bandido à cavalo no meio do cafezal, aquela montanha de jatobás que colhíamos e escondíamos na tulha pra depois ver quem tinha mais, se eram os grandes ou os pequenos (me lembro que uma vez eu e o Buba descobrimos o esconderijo dos grandes e roubamos um montão!!!)

E a fazendinha dos grilos??? Nossa! Aquilo era para deixar qualquer Niemeyer com inveja! Tudo muito bem montado, as casinhas de areia, grama e barro que fazíamos, comandados pelo nosso mestre de obras Roberto!
Era ele quem sempre dava a palavra final nas construções, era muito exigente nessa parte! E depois tínhamos que caçar milhares de grilos para soltarmos na fazendinha. Era sensacional!!!.

Casas de grilo, casas na árvore, colheitas de pimenta pra arrecadar dinheiro para os bailes de carnaval, banhos de cachoeira no famoso Buracão, teatrinhos ao vivo, Max imitando Ronald Golias, armadilhas nas camas dos grandes...quanta coisa!

E os passeios à cavalo? Me lembro do Jota, meu primeiro cavalo. Tinha esse nome por ter uma letra J branca estampada na testa. Depois veio o Star. Esse tinha uma estrela branca na testa.
Mas o melhor ainda estava por vir...quem não se lembra das famosas “PASSARINHADAS” do Bainho, um cavalo pra lá de Mal Humorado que sempre dava coice quando alguém encostava a mão na garupa dele? Ha ha, e a Carmem, nossa amiga, toda vez que montava nele, o Buba sempre inventava de fazer das suas para o Bainho dar a passarinhada dele.... Isso quando não fazíamos guerra de abóboras!!!

Mas o melhor de tudo e o que vai ficar prá sempre na história foi “Asdron e Zé Miubal”, uma apologia ao Asdrúbal e ao Zé Mion que resolveram ser companheiros inseparáveis durante umas férias. Mas não se podia falar isso para minha irmã Beatriz, pois era só dizer a frase Asdron e Zé Miubal e ela se punha em prantos! Chorava até dizer chega!! Não me pergunte porque, acho que nem ela mesma sabe...!!!

Jogos de Futebol. Todas as meninas queriam segurar os relógios de cada um dos meninos! Era sempre uma briga! Eu até arriscava uma jogada de vez em quando e até ganhei o título de Ponta Esquerda Noroeste de Baurú por causa de uma camiseta vermelha que eu usava...

Os jogos eram divertidos, mas de vez em quando eles nos expulsavam para dizerem palavrões...(não podiam falar na frente das meninas). Mas é claro que não posso me esquecer do Vergueiro com sua bombinha de asma! Era só ele começar a correr e tinha que parar o jogo para ele dar umas 2 borrifadas pois ficava sem fôlego muito fácil...e naquela época a bombinha era das antigas, uma bombinha de borracha de apertar.

E na época da colheita do café?? Eu achava lindo os desenhos que os colonos faziam no terreiro com os grãos de café deixados ao sol para secar, então adorava correr por cima dos grãos e espalhar tudo!! Coitados dos empregados, tinham que fazer tudo de novo... mas o melhor era pular na palha do café. Meu Deus, não sei como sobrevivi a toda aquela poeira!!!

Quanta coisa boa! Sorvetes de carambola na casa da Isaura, mulher do Zé Mion, administrador da Fazenda. Existe sorvete melhor no mundo?? Minha memória diz que não!

E as mesas de lanche servidas no meio da tarde para nossos amigos? Era uma coisa inacreditável!!!
Bolachinhas de todos os tipos, rosquinhas de nata, 3 ou 4 tipos de geléias, broinhas de fubá, pão de minuto, pão de mandioquinha, biscoito de polvilho, sucos de frutas variadas!! Tudo feito pelas habilidosas mãos da Tata (Elisa Girão da Silva), que foi governanta do papai mas acabou ficando na família durante muitos anos, e também pela Ana (Gorda) nossa cozinheira querida e também eleita por mim a melhor coçadora de costas do mundo!!

Quanta coisa a gente fazia! Pescarias no lago, caçadas noturnas de rãs, festas de aniversários que íamos na cidade com o motorista Luizinho, na famosa Kombi, assim cabia todo mundo. Na volta enchíamos o carro de balas de coco, docinhos e outras coisinhas que pegávamos das festas, assim fazíamos a nossa festa no dia seguinte. Realmente o carro vinha abarrotado de doces! ( ai, que vexame...)

E o Galinheiro da Mamãe? Um absurdo, todas as galinhas tinham os nomes das amigas da Vovó Beata!!

Passando mais adiante, tínhamos o pomar! Uma exorbitância de frutas! Mangas variadas, Maçã, Pera, Cambucá, Guabiroba, Araçá, Framboesa, Amora, Jambo, Goiaba, Maracujá, Uva, Abacaxi, Morango, Laranja de todos os tipos, Limões também, Grumixama, Fruta do Conde, Abil...e outras mais que não me recordo no momento! Que rico era nosso pomar! Mas ainda não falei das famosas jaboticabeiras!!!

Era tanta jaboticaba, os pés eram tão carregados, que nem dava pra subir direito. Me lembro que nessa época eu nem almoçava ou jantava! Passava o dia inteiro só comendo jaboticabas! Bons tempos!!!

Me lembro do Papai fazendo mágicas na sala de jantar...a famosa bolachinha que aparecia no teto, e depois sumia, (e até hoje não sei dizer como ele fazia aquilo), ou então fazendo queijo derretido e andando com o queijo esticado pela casa....divertidíssimo!

Papai gostava muito de passear com os cachorros, na época tínhamos o Goofy, um lindo boxer dourado e muito fiel a meu pai. Depois do Goofy, papai e mamãe resolveram criar boxers, então tivemos um outro casal, mais um Goofy e a Flicka, e sempre que nasciam filhotinhos, mamãe cortava o rabinho deles!!! .

Realmente tive lembranças inesquecíveis do Paraízo, mas confesso que sempre preferi as luzes da cidade ao pio da coruja, então nos finais de semana ia sempre dormir na casa da minha melhor amiga Marilda Sallum Lopez até que papai resolveu alugar um apartamento na cidade para passarmos o fim de semana.

Depois que Papai morreu em 1987, quase não fui mais para a fazenda. Confesso que a lembrança dele naquela casa ainda é muito forte e até hoje quando entro no escritório penso que vou encontrar Papai sentadinho em sua poltrona, vendo seu programa favorito na TV, assaltando a lata de bolachas ou o biscoitão de polvilho da Ana, que eu e ele adorávamos!

Seja na fazenda ou em qualquer outro lugar, guardo para sempre a lembrança de Papai em meu coração e tenho certeza de que ele está muito feliz por tudo aquilo que está sendo feito nesses 150 anos do Paraizo. Que Deus mantenha nossa família sempre unida!

Elisa Franco de Lacerda

Um comentário:

  1. ELisa,
    Eu descendo de Ana Maria da Conceicao que foi casada com Francisco Correa de Lacerda. Tenho muitas informacoes sobre a familia. Se estiveres interessada favor me contactar.
    Marcos Camargo
    San Diego, CA

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