segunda-feira, 12 de abril de 2010

Depoimento de Beatriz Franco de Lacerda Bacellar

Eduardo e Maurício


Beatriz e Durval na missa do centenário do casarão - 1997




amigas de São Carlos

Os primos "menores"

Falar da fazenda para mim é falar da minha vida. Fui para lá com 15 dias de vida.

Todas as minhas boas lembranças vêm de lá. Nossa casa era muito alegre, meus pais tinham uma roda enorme de amigos e consequentemente os filhos deles eram nossos amigos também.

Os dias começavam cedo porque a escola era longe e tínhamos que atravessar o rio para ir para a cidade.

Lembro de irmos de Kombi junto com os filhos do administrador Ismael e depois Papai nos levava de Jipe que era o único carro que conseguia atravessar o riozinho.

De 64 a 68 viemos para São Paulo. Papai veio fazer faculdade e nós estudávamos no Colégio Assunção. Um horror, éramos semi-internas!

A sorte é que todos os finais de semana voltávamos para a fazenda para ver se tudo estava bem. Eram os melhores dias da semana.

O duro era voltar no domingo porque na segunda.... colégio de novo. Por sorte, minha tristeza durou pouco pois Papai perguntou – Vamos morar na fazenda? Que alegria. Despedimo-nos de nossa casinha na Rua David Campista (hoje Mamãe mora lá) e lá fomos para o Paraizo.

Bons tempos!

Tudo era bom. Os empregados antigos – Alécio, Rosária e Fátima, Lilo, Milton, Edmundo, Ana – todos muito educados.

Até hoje tenho contato com a Ana (chamada carinhosamente por Gorda pois era extremamente magra) e às vezes com a Fátima, filha do fiel jardineiro Lécio como era chamado por nós.

Zé Mion, Isaura, Wilma e Serjão eram nosso dia a dia. A casa da administração é perto da nossa e sempre tinha gente por lá.

Mas o melhor da fazenda era esperar pelas férias. Que delícia..

Já que não tivemos irmãos, Elisa e eu fomos abençoadas com 8 primos irmãos que hoje são realmente como irmãos para mim.

Muita alegria, confusão, brigas e muitos, muitos passeios juntos. Era duro quando as férias terminavam e o silêncio voltava a reinar. Mas nada como esperar as próximas férias ....

Mais tarde, já tínhamos muitos amigos da cidade e era uma delícia. No final de semana a casa se enchia de amigos para passar o final de semana (na farra) porque durante a semana era só escola, aulas de piano, violão e inglês. E não tinha conversa!!!

Nossa vida era muito alegre pois meus Pais eram muito festeiros e adoravam receber visitas.

A fazenda era um ponto de referência para todo estrangeiro que viesse para a cidade. Muitos professores convidados da Federal e da USP foram recebidos na fazenda. A casinha da Tia Luly chegou a ser alugada para um professor americano, pois a fazenda era – e ainda é – um lugar maravilhoso e cheio de hospitalidade com todos que ali chegam.

Em 1974 Eduardo, meu primo, veio morar aqui na Paraizo. Foi um intercâmbio de primos!

Elisa, minha irmã, tinha entrado na faculdade e se mudou para a casa da tia Luly em São Paulo.

Foi um ano fantástico pois tinha um “irmão” e, ainda por cima, motorizado, o que nos dava uma certa liberdade de ir e vir mais vezes para a cidade. Tenho certeza de que o Dadú gostou também. Foi assim que ele conheceu a Beth.

Aos 18 anos vim para São Paulo fazer faculdade. Morava na rua Piauí num apartamento que Papai tinha comprado depois da morte da vovó Beata, quando a casa da rua Bahia foi vendida. Morei lá 18 anos....

Mas na vida nada acontece por acaso. Morava em São Paulo mas todos os finais de semana voltava para a fazenda para repor as energias.

Num desses finais de semana encontrei, num baile no clube, Durval com quem me casei e tivemos 2 filhos maravilhosos – Eduardo e Mauricio.

E a história se repetiu.

Em Agosto de 1978, Durval foi ao escritório de meu Pai na fazenda e me pediu em casamento. Exatamente igual a tia Zila, quando tio Amadeu foi ao mesmo escritório pedir sua mão em casamento para bivô Cândido!

Nos casamos em 1979 na capela da fazenda. Um dia inesquecível...

Nunca deixei de ir para o Paraizo todos os finais de semana. Em 1987, com a morte de Papai, assumi a fazenda.

Trabalhava durante a semana em São Paulo e, nos finais de semana, ia para a fazenda com as crianças para tentar reorganizar tudo. Nos últimos tempos, Papai andava bem desanimado e a fazenda estava toda arrendada e bem largada.

Com muito trabalho, dedicação e sempre contando com meus 3 mosqueteiros – Durval, Eduardo e Mauricio –, conseguimos, aos poucos, arrumar a fazenda.

Plantamos café, goiaba, novos pastos e deixamos um pouco de terra arrendada para o plantio de cana (que era a renda fixa da fazenda). Todo o dinheiro que entrava, lá ficava. E é assim até hoje....

Depois de 3 anos de idas e vindas, larguei meu trabalho em São Paulo e me dediquei só à fazenda.

Nossos filhos já crescidos, o Durval levava-os para a escola e eles voltavam no fim do dia com a perua do colégio. Com isso ficou mais fácil ficar uns dias na fazenda sem ter a preocupação com as crianças.

Ficava e ainda fico, pelo menos 4 dias da semana no Paraizo, cuidando da casa – que não é pequena – e da fazenda.

Construímos uma granja, aumentamos nosso criatório de gado Canchim e hoje podemos dizer que a casa está quase em ordem.

Dizem as más ou invejosas línguas que fazendeiros adoram estar sempre fazendo...

Em 1997, demos uma linda festa para comemorarmos o centenário do casarão.

Conseguimos juntar toda a família e amigos que vinham ao Paraizo desde a época de solteiros para matar as saudades.

Muitos não tinham voltado ao Paraizo desde 1960 quando foi a festa do centenário. Foi muito bom pois muitos já não estarão no sesquicentenário da fazenda...

Um dia, visitando a fazenda Monte Alegre dos primos Soninha e Fernão, ouvi dele a seguinte frase:

“Não sei o que essas mulheres da família têm, para gostarem tanto assim de terra!”

Respondi:

“Fernão, posso te dizer que eu também não sei, mas que gosto, gosto e muito...”

Espero por esta festa há muito tempo e temos feito o possível e o impossível para que este dia seja realmente maravilhoso.

Nos vemos em breve, na fazenda, é claro!!!!!

Beatriz

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