terça-feira, 30 de março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

Depoimento de Roberto Figueiredo Mello - Memórias da Fazenda Paraizo




A Fazenda Paraizo é parte fundamental da minha formação.

Conta minha mãe, Toty, que eu tinha meses quando para lá fui pela primeira vez, num cestinho de vime.

Como minha relação com a Fazenda começou muito cedo é muito desafiador precisar cronologicamente essas lembranças tão remotas... Feita essa ressalva, vou dividir minha narrativa em três partes:

A mais antiga com as memórias de infância que são mais imprecisas e, muitas vezes se confundem com relatos ouvidos dos outros. Numa segunda parte que corresponde à adolescência, são tão fortes as recordações que sou capaz de relatar detalhes... E uma terceira que corresponde já à vida adulta.

Vamos lá aos fatos !

Uma das mais antigas lembranças que tenho é de uma festa de São João. A enorme fogueira montada logo abaixo do grande terreiro de café, o sanfoneiro, todos os colonos presentes, pipoca, quentão, que eu não podia tomar, e o famoso mastro....

Eu me lembro de ter assistido à colocação do mastro com o clássico triângulo na ponta com as imagens dos três santos, Antonio, João e Pedro e de ter participado, com os meninos da colônia, da tradição de jogar moedinhas no buraco onde iriam colocá-lo. Lembro-me do pau de sebo e das brincadeiras com os que escorregavam ao tentar subir. Os adultos soltavam os enormes rojões e eu admirava a coragem para colocar fogo e impulsionar a vara para o alto.

Numa dessas noites, talvez na primeira festa do gênero da qual participei, o Japi, um cachorro peludo amarelo, meio pastor alemão e que andava com o Mané Velho – nascido na Fazenda e descendente de escravos – ficou tão tão apavorado com o barulho que foi parar debaixo da cama do Mané. Ele morava num quartinho no corpo da casa da administração, próximo à sala destinada à escolinha e ao lado do lavador de café original.

Outra lembrança dessa fase é a da espera ansiosa pelos fins de semana quando meu pai, Sérgio, vinha de São Paulo e nós podíamos brincar muito com ele; eu adorava brincar de fazendinha debaixo da sombra da gigantesca figueira, olhando para o lago, fazendo vaquinhas de chuchu ao lado de meu pai e de minha mãe, os dois sentados nos bancos de madeira cheios de um musgo verdinho que parecia veludo.

Já um pouco mais velho lembro-me de longos passeios a cavalo com o Zé Mion, administrador da fazenda e talvez o meu primeiro herói depois de meu pai. Sendo o mais velho ia só com ele pois meus irmãos eram bem menores e nossos primos nessa época ainda não iam para lá junto conosco.

Corríamos a fazenda inteira juntos, eu montado no Pirata que era um cavalo da minha mãe, muito manso; adorava ouvir as ordens dadas aos colonos a respeito do trato com o café. O Zé Mion sabia mandar e era muito respeitado. Uma das decepções mais fundas da minha vida foi descobrir, já adulto, que ele não merecia mais a confiança nele depositada e teve que deixar a fazenda. Nunca mais quis vê-lo.

Eu ficava muito no terraço da casa dele, Zé Mion, e ouvia as notícias trazidas pelos que vinham da cidade e passavam obrigatoriamente por lá . Paravam montados em seus cavalos na frente do paiol de milho e ficavam desfiando as novidades.

O mais falante deles era o Antoninho Leme que tinha um cavalo bonito com um baixeiro todo colorido; ele era irmão do Calixto, o cerqueiro que morava na única casa remanescente da chamada colônia dos pretos. O Calixto era retinto e tocava violão, uma espécie de Milton Nascimento do local.

Esse terraço, numa fase posterior, era frequentado quase todo final de tarde por todos nós, para tomar o famoso sorvete da Isaura, mulher do Zé Mion. O sorvete de açúcar queimado com compota de carambola é um sabor de infância inesquecível, acho que para todos nós primos.

A colônia era totalmente habitada e eu me lembro de famílias inteiras que lá moravam. Os irmãos Juca, que era pai do Samuel, o meu primeiro amigo na fazenda, Edmundo, pai da Ana com quem minhas primas cresceram e o Nilton. Os irmãos Ditinho, Alécio, o jardineiro do Paraizo e Lilo que alimentava os coelhos.

Eu me misturava com os filhos deles no terreiro e ajudava a tirar os pedregulhos do café que ficava secando ao sol. Tio José pagava 1 cruzeiro, será? por latinha cheia.

Dia 19 de Junho de 1960 houve a festa dos 100 anos do Paraizo. Eu tinha 11 anos e me senti importantíssimo por duas razões: a primeira porque fui designado para a tarefa de segurar o microfone para gravar os discursos do dia. Por essa razão eu apareço em tantas fotos... O que ninguém sabe é que o microfone dava choque e por isso eu apareço sempre levantando o dito cujo pelo fio para evitar os choques! A segunda razão de me sentir importante nesse dia foi ver meu pai fazer o papel de coroinha, usando seus velhos conhecimentos de Colégio São Luiz! Outros tempos, outros tempos...

Uma segunda fase começa com a lembrança de um fato muito marcante para mim. Foi o dia em que fiquei sabendo, em São Paulo, que o tio José e a tia Luly tinham combinado reformar uma casa de colônia para a família dela, e que isso possibilitaria que, daí em diante, os primos fossem para a fazenda na mesma época que nós. Até então, as férias eram divididas pelas duas famílias .

Se já gostava da fazenda, daí em diante, a espera da chegada das férias virou uma gostosa obsessão.

Dessa primeira fase com os primos eu me lembro de ir, logo cedinho, um frio danado, o dia ainda raiando, ver tirar o leite das vacas no curral. Ficávamos pendurados nas baias onde os empregados ordenhavam as vacas, muito impressionados de assistir à operação de chamada dos bezerros. Bastava abrir a portinha e falar o nome da mãe e lá vinha o bezerrinho certo. Eu nunca entendi como isso acontecia. Mistérios insondáveis da maternidade...

Lembro também de incursões pela horta onde havia o chiqueiro. Nessa horta havia uma bomba de água mecânica que tinha um aparato chamado “carneiro” que adorávamos acionar com os pés para ver a água esguichar, o que era proibidíssimo, mas irresistível...

Também era bom acompanhar a Isaura, na busca dos ovos, principalmente na Serraria e imediações, acompanhar a mágica de todo dia ter um ovo novo posto nos ninhos em lugares às vezes muito estranhos.

A principal atração, porém, era andar a cavalo. A certa altura, a disputa pelos cavalos ficou tão grande que, não havendo arreios suficientes, foi estabelecido um rodízio para que todos, grandes e pequenos, pudessem usar os cavalos.

Os grandes éramos eu, Fernando, Carlos e Marcelo. Os pequenos, Asdrúbal, Luiz, Elisa, Beatriz e Eduardo.

Nessa época o Luiz Roberto era ainda o nenê e não disputava cavalos. As meninas andavam melhor do que muito marmanjo, dois toquinhos galopando sem parar.

Eu usava, como já contei, o Pirata que era de minha mãe. O Marcelo tinha o Jardim, o Carlos usava o Pango e o Fernando o Bainho e depois o Jota .

Grande sensação foi quando o Buba ganhou um cavalo de presente de Natal da madrinha, tia Athaly; os presentes desses padrinhos eram sempre muito especiais e invejados por todos.

Em 1963, num dia em que fizemos um grande piquenique, a tia Carmen me deixou usar o Carimbo, que era um cavalo muito rápido e fogoso; daí em diante passei a andar nele, pois o Pirata já estava bem velhinho.

Também nesse ano, em Julho, pela primeira vez um amigo foi passar as férias conosco. Convidado por mim, o Leme (Roberto Leme), meu colega desde 1959 no São Luiz. Foi uma grande novidade que permitiu que, nos anos seguintes, fossem o Vergueiro (Carlinhos Vergueiro), o Max (Maximiliano Rezende) e o Celso (Celso Ramalho) que, com o Leme, fazem parte importante das memórias de infância de todos nós primos, assim como as amigas de nossas primas Elisa e Beatriz, como a Vera Heloisa, a Carmen, a Bau, a Gogó, e a Renata.

Com um grupo maior nossos interesses foram se diversificando e nossas atividades aumentando muito.

O futebol sempre ocupou um lugar de destaque em nossa família. Jogávamos todos os dias e arrumamos um campinho com traves e tudo num gramado em frente à casa da administração. Infindáveis jogos, muitas brigas passageiras e alguns momentos marcantes, como um jogo que fizemos contra os meeiros japoneses que estavam na fazenda para plantar tomate. Tenho até hoje o troféu, pois ganhamos de 7 a 2 e o Moacyr, filho do Zé Mion, fez uma pequena taça de madeira na serraria da Fazenda.

Havia tardes em que ficávamos ouvindo um programa da Rádio São Carlos que pedia que se escolhesse, por telefone, uma dentre uma dúzia de músicas que eram tocadas durante o programa. Num desses dias, fizemos tantas ligações para o programa que conseguimos colocar em primeiro lugar uma música inusitada – “Nossas Alianças”, campeã concorrendo contra grandes sucessos da época. Não sei qual terá sido a conta do telefone que tio José pagou nesse mês!

Havia uma sala que dava para o terraço vermelho da frente do Casarão que era da Vovó. Nela havia uma mesinha redonda de jogo que era muito usada por ela e suas amigas, tia Sinhá, tia Stella, Tia Mercedes, Dona Antonieta Morelli, tia Belinha, e também pela Tata, dona Elisa, governanta da Elisa e Beatriz quando pequenas e que ficou morando na fazenda por muitos anos. Jogavam Buraco horas a fio e, às vezes, recrutavam um neto para completar a mesa.

Vovó era muito alegre e comandava as amigas sem nenhuma cerimônia. Decretava qual era a hora de jogar, de passear, de tirar um cochilo e estava acabado. Se alguém não gostasse paciência... Como todas voltavam, acho que gostavam...

Depois do jantar, ficávamos sempre ouvindo música na sala grande do casarão. Sou capaz, até hoje, de reconhecer os Lp’s do tio José que nós ouvíamos tais como, o primeiro do João Gilberto, um da orquestra do Simonetti, outro da famosa boate Drink do Rio, onde o Miltinho era crooner, o primeiro do Milton Banana, Calcutá de Lawrence Walk, entre tantos. Tio José, que assumiu o posto de meu padrinho em lugar do vovô Asdrubal que morreu muito cedo, tinha um gosto musical sofisticado e introduziu a Bossa Nova na família. Eu adorava as roupas que ele me dava nos meus aniversários.

Um pouco depois, começamos a levar nossos próprios discos, principalmente eu, que sendo mais velho já frequentava festas em São Paulo. Acho que todos vão se recordar dos discos do Paul Anka que herdei de minha prima Betinha, do Peppino di Capri, do Trini Lopez latino e outros.

Com o advento da Jovem Guarda a moda era ter aula de música em São Paulo. Assim Carlos, Fernando, Celso, Marcelo, Max e eu fomos ter aulas com uma senhora que se chamava Arlete. Disso nasceu o conjunto (na época não se dizia banda....) “Pêssegos em Calda” que só teve um grande sucesso, “Piange con me”, mas, convenhamos, tinha um nome muito precursor. Aproveitávamos as férias para ensaiar no terraço vermelho e pobre de quem nos ouvisse! O único que não precisava de aulas era o Vergueiro, nascido numa família de ligações com a música dos lado materno e paterno, ele não fazia feio. Faz feio, porém, em não revelar nas entrevistas que dá hoje como músico profissional, que sua iniciação passa necessariamente pelos “Pêssegos em Calda”. Já tive a oportunidade de dizer isso a ele pessoalmente.

Em algumas noites organizávamos um teatrinho para os adultos. As performances do Max imitando o Golias (que era um sancarlense ilustre) e do Leme, com uma fralda sentado numa bacia serão sempre inesquecíveis!

Havia noites em que íamos todos à cidade numa Kombi, muitas vezes com a tia Carmem, para ver um filme num dos três cinemas de São Carlos: o Avenida, o São Carlos e o Jóia que ficava na Vila Prado – como era hábito trocavam de filme todos os dias e assim vimos verdadeiras preciosidades trash... Jamais vou me esquecer de um que se chamava “Mothra, a Deusa Selvagem” que consistia numa mariposa gigante, aumentada grotescamente por uma lupa e que trazia terror a uma cidade...

Desde essa época eu gostava muito de conversar com a tia Luly e o tio Zé Roberto e tenho até hoje algumas letras de música, em inglês, tiradas na casa deles na fazenda. Às vezes eles me convidavam para tomar um chopp (em São Paulo) e íamos ao Munchen, na Alameda Santos, pois meu pai não gostava de cerveja. São tios muito queridos e que me proporcionaram a grande alegria de ser padrinho de batismo do Luiz Roberto.

Durante o ano de 1964 o Dr. Joaquim Alcântara, pai da Gogó, foi contratado pela família para fazer uma avaliação das terras da Fazenda que redundaria na divisão amigável que vigora até hoje; digo amigável porque, comparativamente a situações de outras famílias essa divisão foi exemplar.

Claro que houve concessões de todos, mas as relações se mantiveram o que nos permitiu chegar até aqui, nós, os dez primos, convivendo e se encontrando com uma frequência desusada. Temos nossas diferenças, estilos próprios, mas nos gostamos e nossos filhos todos se conhecem, o que também é muito raro.

Vovó Beata, como a chamávamos, ficou como usufrutuária da fazenda enquanto vivesse. Mamãe ficou com as terras originalmente chamadas de Santa Cruz, daí o nome atual da Fazenda e a Tia Luly com o Jabaquara como era chamada essa parte. Ambas começaram a construir casas para viver no pedaço que lhes coube.

A casa da Santa Cruz começou muito pequena, dois quartos, sala, cozinha, banheiro e um pequeno terraço. Foi um embrião perfeito da casa que existe hoje, mérito de minha mãe que conseguiu enxergar muito na frente.

Foi também reformada a última das casas da colônia antiga, a mais próxima da nova sede, que se tornou, numa primeira etapa, nossa republica e depois, quando começaram a vir os meus filhos passou a ser usada por minha família – a “Casinha”.

As primeiras férias que passamos na casa nova foram as de Julho de 1965.

Meu pai, fazendeiro principiante, plantou café e manteve um pouco de gado. Como engenheiro, ele se irritava profundamente com a história do “choveu muito, acho que pouco”, típica dos fazendeiros tradicionais! Não perdeu tempo... Mandou instalar um pluviômetro na fazenda, instruiu o Toninho, um menino à época, de como medir a chuva, e o resultado é que temos um histórico de 45 anos de chuvas na Santa Cruz de fazer inveja aos institutos de meteorologia.

Quando da divisão, por sugestão do tio José, foi para a Santa Cruz a família de Durvalino Gallo e Eurídice, pais do Toninho e da Maria que são gêmeos e nossos caseiros até hoje. Maria casou-se com o Antonio, que meu pai fez administrador da Santa Cruz e Toninho com Leni que também trabalha conosco.

Os primos Figueiredo Mello cresceram passando férias na Santa Cruz e têm desses empregados muito boas lembranças que um dia, certamente, eles vão contar.

Em Janeiro de 1966 e também em Julho desse ano, o Celso passou as férias na Santa Cruz. Em Janeiro corremos o perigo dele não ir pois tinha quebrado o pé e estava engessado. Ele foi e jogou bola no gol as férias inteiras, para desespero do tio, Nelson Carrera, famoso ortopedista que também me socorreria anos depois. O Celso ficou amigo e médico (ortopedista...) da família toda. Casou-se com a Julieta, médica psiquiatra, e somos compadres e amigos íntimos até hoje. Dr. Caio, já falecido, e dona Rosita, pais do Celso são das pessoas que mais quero bem neste mundo.

O fato de passarmos a não mais ficar no Casarão pouco influenciou na nossa convivência. Continuamos indo para nossas partidas de futebol, para nadar na piscina onde passamos muitas horas nos verões sancarlenses. Aliás São Carlos tinha um clima espetacular, com um verão mais ameno que o de Ribeirão Preto, por exemplo, e um inverno europeu com dias lindos de céu muito azul e frios pra valer.

Às noites começamos a sair mais, nós mais velhos, para jogar snooker ou boliche na cidade. Até que eu tirasse carta, em agosto de 1966, nos valíamos das caronas dos motoristas de minha avó, Zé Coco e Zé Leite, ou do de tia Stella, Señor Vicente, um espanhol folclórico. Foi ele quem nos levou a uma apresentação do Roberto Carlos em pessoa no cine Avenida, em Julho de 1966, no auge do “Quero que vá tudo pro inferno”. À saída o Señor Vicente decretou que Kleber, um cantor local com calças boca de sino, era muito melhor que o Brasa...

O snooker fechava às 23 horas, veja só, e depois de jogar nós íamos para o Bar São Paulo, único lugar que ficava aberto de madrugada em São Carlos por ser em frente à “Rodoviária” ou seja a esquina oposta onde os ônibus intermunicipais faziam ponto.

Para mim essa fase se encerra nessas férias de Julho de 66, pois em seguida vieram o vestibular, o CPOR, que servi em 67, e muitos outros interesses que me distanciaram um pouco da fazenda.

A partir dos namoros mais sérios, voltamos a frequentar a fazenda com os amigos, agora casais. Vivemos uma época muito alegre, da qual meu pai gostava muito de fazer parte e se misturar com esses amigos pois muitos ele conhecia desde meninos. Passamos especialmente Carnavais memoráveis cujo ponto alto eram as noitadas de cantoria no jardim de inverno do Paraizo, com a tia Carmen ao piano e tempos depois, ao orgão. O ouvido dela e o prazer em tocar eram incríveis – bastava uma cantarolada pra ela tirar qualquer música....

Para mim a melhor lembrança é de um dueto que fiz com o Robertinho (Roberto Meirelles Filho) cantando “A Noiva” como a Ângela Maria, numa espécie de pré-karaokê. Que saudades do Robertinho...

Dessa época fizeram parte o Robertinho, o Ricardo Ariani, nosso compadre, o Thyrso, o Zé Salles Freire, meu compadre e um de meus amigos mais antigos, o Lucas, o Mottin e o Mattei, amigos do Carlos, meu irmão.

Chegaram os filhos, Rodrigo em 1976, Beatriz em 1978, primeiros netos seguidos de mais nove! E com eles a volta das férias inteiras em São Carlos. Meu pai e minha mãe tinham uma rotina, que durou anos, de ir para lá de quinze em quinze dias na sexta-feira, jantar com tio José e tia Carmen no Casarão no sábado e voltar para São Paulo para nos receber para o almoço no domingo.

Nas férias, a Vovó Toty ia para lá para passar todo o tempo com os netos. Nós e o Vovô Sérgio íamos nos finais de semana e aproveitamos muito, nós e nossos filhos, dessa convivência. Não é a toa que os onze netos têm uma devoção especial pela vó Toty.

Depois que meu pai faleceu assumimos em conjunto a Fazenda e, felizmente, conseguimos dividir as tarefas harmonicamente e levar adiante a missão que nos coube nessa extensa cadeia de gerações.

Até hoje, nós primos, gostamos de nos visitar, de jantar juntos na cidade de São Carlos, de comer a famosa pizza do Durval no Casarão, ou seja, gostamos de nos encontrar. As fundações dessa amizade estão lá na nossa infância.

Volta e meia comentamos que talvez seja impossível manter indivisas as três glebas do Paraizo original por muito mais tempo. Afinal são 30 herdeiros nesta nova geração e a cidade quase chegou até a Fazenda.

Aos 61 anos acho que aprendi que é impossível operar sobre o futuro. Será como puder ser.

Vamos aproveitar, porém, o privilégio de sermos protagonistas de uma história de 150 anos. Fazendas mais velhas há, e muitas, no Brasil. Na mesma família certamente poucas, muito poucas.

Roberto Figueiredo Mello


domingo, 7 de março de 2010