terça-feira, 27 de julho de 2010

Discurso de Beatriz Franco de Lacerda Bacellar


AMIGOS

Há muitos tipos de amigos.

Amigos comuns, de infância, do tempo de escola, amigos dos amigos

Amigos que se fazem, outros que se elegem

Amigos da alma, do coração, de sangue

Há amigos de vidas passadas e amigos para toda a vida.

Amigos que são mais que amigos

Há amigos que são como irmãos, outros,que são como pais.

Há também amigos que são como filhos

Há amigos que estão conosco nos bons momentos

e outros que estão sempre conosco

Há amigos que vão embora, amigos que voltam, amigos que ficam

Há amigos imortais e amigos de distância

Há amigos que se estranham, que se abraçam, que se admiram

Há amigos homens, amigas mulheres, amigos cães

Há amigos novos,velhos e velhos amigos

Amigos sem idade,

Há amigos que desejamos que se vão, outros que não podem vir

Há amigos de palavra... amigos incondicionais !!!

Há também amigos invisíveis, amigos sem lugar,

amigos da rua, da ginástica

Amigos que são amigos meus, amigos teus, nossos amigos.

Amigos de verdade.

Há amigos que estão tristes, outros que estão alegres,

outros que simplesmente não estão.

Há amigos que estão na lua, outros com os pés no chão

e outros, no céu

Há amigos ETERNOS......

Todos, absolutamente todos os amigos, tem algo em comum

São INDISPENSÁVEIS


24 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Discurso de Roberto Figueiredo Mello na cerimônia dos 150 anos


São Carlos, 24 de Julho de 2010

Para Carmem, José, Luly, José Roberto, Toty e Sérgio

Família, Amigos;

Confesso que vivi estes últimos dias tomado por um sentimento, que para mim não é comum, de incapacidade de enfrentar este momento.

Tendo acompanhado o trabalho de minha mulher, Neta, e sua dedicação em resgatar a história da Fazenda Paraizo durante o último ano, senti que era preciso vencer esse desafio apesar da dor ainda tão viva da perda de minha mãe, Toty.

Afinal foi ela quem nos legou essa história.

Sei também que ela gostaria muito de ouvir o que será contado em seguida.

Sempre tivemos no horizonte a hipótese, infelizmente concretizada, de que ela pudesse não estar presente, fisicamente, nesta data tão importante.

Sim, eu disse fisicamente.

Pois foi exatamente essa a circunstância que me fez prestar atenção na profundidade que tem a crença tão comum de que as pessoas podem se fazer presentes em espírito.

Recorrendo ao significado da palavra tradição podemos entender melhor que não só ela e o João Paranaguá que há tão pouco nos deixaram, mas também outras centenas de pessoas que nos antecederam, estão aqui presentes hoje.

Traditio, tradere, do latim, palavra familiar aos estudantes de Direito tem como significado - Entrega.

Em grego, na acepção religiosa, paradosis, ou a transmissão de práticas, valores e crenças de geração em geração, advinda da necessidade diante da certeza de que o homem é mortal.

Estamos, portanto, diante desses fatos.

A atual geração é legatária dessa entrega, traditio, tradição, que recebemos e continuamos a receber, da geração que nos antecede.

Nosso vínculo com estas terras está impregnado das histórias que ouvimos ao longo da vida, das que vivemos, e das novas histórias que estamos entregando para nossos filhos.

Não são somente os laços de sangue que nos ligam à Fazenda Paraizo.

Talvez seja mais forte que o sangue, a tradição oral, que foi forte o suficiente para, até aqui, nos fazer capazes de manter e amar este pedaço de terra.

Vou recorrer a pequenos trechos extraídos dos depoimentos que foram dados e que fazem parte do blog da Fazenda Paraizo.

O mais antigo desses depoimentos é o de tia Zila, irmã de meu avô Asdrúbal e que faz parte de um livreto chamado “Dias ensolarados no Paraizo”.

No Paraizo as conversas de casa nova continuavam. Mamãe nos ensinou a ler, escrever, contar e a Geografia; o que eu me lembro, mamãe ensinava muito bem. Nos mostrava no Mapa. Sabíamos “na ponta da língua” como se dizia, as 5 partes do Mundo, mares, países, rios, lagos, montanhas, cidades. Nos mudamos para a casa nova no ano de 1897. Então tivemos a primeira Professora. Senhora alemã, Fraulein Walsman. Nos ensinava português, francês, aritmética, geografia, historia Santa, piano e ainda trabalho com a agulha. Essa senhora era tratada por meus Pais com toda consideração e bondade; ganhava quatro contos por ano, livres, viagens, passadio, tudo por conta de Papai. Tinha um bom quarto, uma sala para dar as aulas e um terraço com bonita vista. Algumas vezes estávamos em aula e ouvíamos os gansos do lago em grande agitação e cantoria. Pedíamos licença para a Fraulein e íamos olhar na janela; era quase sempre uma visita que chegava de trolley ou algum passante como o Sr. Joaquim Alves; esse vizinho tinha licença para passar pela nossa fazenda para encurtar o caminho.”

Do precioso depoimento de João Paranaguá:

“Quando nos envolverem

As sombras do crepúsculo

Sentiremos a saudade

Das folhas que não tombaram

E não abrigaremos mais

As emoções dos tempos idos,

E tudo será simples como

O cair das sementes sobre a terra.”

O poema acima foi escrito por João Alfredo Paranaguá Moniz e está no livro “Aurora” publicado em 2006. Não foi escrito sobre a Fazenda Paraizo, mas as “folhas que não tombaram” e “o cair das sementes sobre a terra” podem ter ficado em suas lembranças dos tempos de férias na fazenda e dos pouco mais de três anos que morou e trabalhou na fazenda”

De minha mãe, Toty, um trecho que mescla a Fazenda com a revolução constitucionalista, da qual os velhos paulistanos tanto se orgulham.

“Nasci no dia 11 de setembro de 1924. A casa, para um casal sem filhos, teve que ser aumentada! Dois anos depois, nasceu Luly. A Revolução de 1924 foi um pouco antes do meu nascimento. Tia Marocas estava esperando o filho Paulo que nasceu no dia 9 de julho de 1924. Muita gente fugiu para as fazendas, mas como nasci em setembro, papai e mamãe acharam melhor ficar em São Paulo. Tio Theo e Tia Marocas foram para nossa casa na Rua Bahia, já tinham a Heloisa, a filha mais velha. A cidade foi bombardeada em muitos lugares e papai e tio Theo saíam para comprar comida. Isso eu me lembro de mamãe contar, foi meses antes do meu nascimento.

Na Revolução de 1932 – a Constitucionalista – eu me lembro perfeitamente de papai fardado partindo como Major. Como ele era engenheiro, foi mandado para Espírito Santo do Pinhal como estrategista, fazendo mapas, não sei dizer bem o que mais ele fazia. Temos cartas e telegramas que Luly guardou. Levaram burros e cavalos do Paraizo para as tropas paulistas. O Augusto (Tuto) de Maria Flora, que também era engenheiro, chamou papai a vida inteira de Major, era engenheiro também, mas estava abaixo de papai no pelotão. Tio Bilú também foi lutar, não me lembro onde. Todos os paulistas em idade para lutar, lutaram em 32. Nós ficamos na fazenda durante a revolução. Me lembro de papai voltar muito barbudo, tinha uma barba fechada e de farda verde. “

Tia Luly, sempre romântica, e sua enorme afeição por essas terras, afeição cuja dimensão, temos que reconhecer, foi herdada por minha prima Beatriz, aliás, como minha tia diz em seu depoimento.

Conta Tia Luly,

“Eu adorava cavalos. Comecei com o Periquito, depois tive o Rex e, aos dezoito anos pedi como presente um manga larga: ganhei o Tangará.

Mamãe, que nada tinha a ver com culinária em São Paulo, na fazenda virava doceira, boleira, fazia pães e sequilhos pelas velhas receitas de família. Era muito usado se trocar receitas: bolos de dona Alaíde; pão de vovó Eliza; creme de vovó Júlia e por aí afora. Os nomes ficaram...

Meninotas românticas, no inverno, a graça era deitar nos montes de café e ver, naquelas mágicas noites de estrela, as estrelas caírem. Podia-se fazer um pedido, mas não se podia contar que tinha visto a estrela cair.”

Tia Carmen nos conta uma história mais recente e nova.

Uma história de 56 anos..........

1954. Foi quando começou minha nova vida no Paraizo com José Franco de Lacerda: namoro, noivado, casamento, e eis que estou de mudança para a Fazenda!! O que o amor faz acontecer...

Um enorme casarão de dois andares, jardim, horta, pomar, tudo por minha conta!

Aos poucos a rotina foi sendo feita e o dia a dia acontecendo: na cozinha, Honorata com suas panelas debaixo da pia, me fazia medo: na lavanderia, Rosária e sua filha Fátima (ou Famita assim chamada pelas minhas filhas, pois trocava as letras: laspi = lápis, mânica = máquina) era encarregada da roupa e dos quartos. No jardim, meu fiel escudeiro Alécio Vigatti, mantendo sempre varridos os caminhos, os pátios, os canteiros sempre floridos e o pomar com todas as frutas possíveis, para tapar a boca dos vizinhos!! Havia também uma figura singular, o velho Mané –, filho da escrava Felicidade, nascido de Ventre Livre com seu cachorro Japi, perambulando pelo jardim feito uma alma penada, bufando e resmungando.

Foi assim, percorrendo essas histórias e tantas outras que não foram escritas, mas contadas, que eu, aos poucos, fui me convencendo que deveria aceitar o pedido da Bê e falar nesta linda festa.

Antes de encerrar vou usar o trecho final do meu próprio depoimento para dizer alguma coisa para as próximas gerações e falar da nossa compreensão para o que possa vir adiante:

“Entre nós primos, volta e meia comentamos que talvez seja impossível manter indivisas as três glebas do Paraizo original por muito mais tempo. Afinal são 30 herdeiros nesta nova geração e a cidade quase chegou até a Fazenda.

Aos 61 anos acho que aprendi que é impossível operar sobre o futuro. Será como puder ser.

Vamos aproveitar, porém, o privilégio de sermos protagonistas de uma história de 150 anos. Fazendas mais velhas há, e muitas, no Brasil. Na mesma família certamente poucas, muito poucas.”

A festa de hoje é resultado da cooperação dos dez primos desta geração da qual eu sou o mais velho.

Foi mais uma conquista ditada pelas relações de amizade e harmonia que nossos pais nos legaram.

Nada, porém, teria acontecido não fossem a dedicação, o empenho e o amor da Beatriz, pelo Paraizo, sentimentos plenamente compartilhados pelo Durval e pelos filhos.

Roberto

P S: Além dos depoimentos mencionados, existem os da Beatriz e da Elisa e do Antonio Gallo, o Toninho, no Blog da Fazenda Paraizo resultado de um trabalho da Neta que eu testemunhei de perto.

Para os que gostarem de história seu conteúdo é maravilhoso..........

Deu na Folha de São Paulo

Fazenda de café em São Carlos faz 150 anos

DE RIBEIRÃO PRETO


Márcia Ribeiro/Folhapress
A bióloga Beatriz Franco de Lacerda Bacellar administra a fazenda Paraízo, que pertence a sua família há 150 anos
A bióloga Beatriz Franco de Lacerda Bacellar administra a fazenda Paraízo, que pertence a sua família há 150 anos

A produção premiada de café foi extinta há muitos anos na fazenda Paraízo, em São Carlos (a 232 km de São Paulo). No entanto, o fim da cultura e a vinda de outras gerações da família Lacerda não apagaram a história da propriedade, que está completando 150 anos.

Terreiro para esparramar o café, casa de máquina para beneficiar os grãos, local de armazenamento. Toda a estrutura do período cafeeiro foi mantida na fazenda.

Quem retrata a trajetória da Paraízo é a proprietária, Beatriz Franco de Lacerda Bacellar, 54, bióloga e apaixonada pela fazenda onde passou a infância. Ela faz parte da quinta geração da família do fundador do local, José de Lacerda Guimarães, o Barão de Arari.

"Ele comprou essa gleba de terra em 1860. Depois passou a um dos seus filhos, Cândido Franco de Lacerda, que foi o grande empreendedor. Fez a casa principal e outras estruturas e foi um grande produtor de café da sua época", conta Beatriz.

O café feito em Paraízo era voltado à exportação e sua qualidade rendeu um prêmio em Paris, em 1889. A medalha, ainda hoje, está exposta em uma estante na fazenda, assim como retratos de familiares, móveis e objetos que participaram da história de quem viveu na propriedade em outras épocas.

Além de café, a fazenda já teve plantação de algodão e laranja e gado de leite. "Vários tipos de cultivo foram se alternando porque o café já não tinha a mesma força."

A família administrou o local até 1987. Naquele ano, morreu o pai de Beatriz, José Franco de Lacerda, e a terra foi arrendada. Dez anos depois, Beatriz reassumiu a terra e, aos poucos, recuperou a vitalidade do lugar que a viu crescer.

"Voltei e tinha só mato, jardins sem cuidados, a casa era um abandono. Consegui colocar tudo em ordem dez anos depois", conta.

Mesmo com o crescimento da cidade, o local conserva calma e sossego. Em frente ao casarão, é possível avistar o lago. Um pouco mais adiante, vê-se o gado, atividade hoje desenvolvida no local, ao lado da plantação de cana-de-açúcar.

A família já tem representantes da sétima geração do Barão de Arari e, se depender de Beatriz, o legado vai permanecer.

"Tenho um apego sentimental por ter vivido muitos momentos bons aqui. Acho que é importante passar toda essa história", disse.


Deu no Globo Rural



Veja a matéria do Globo Rural e fotos da festa...








































quinta-feira, 22 de julho de 2010

Vai passar...













Está chegando o dia da festa dos 150 anos.
Quando você passar pela porteira da fotografia tirada em 1960, verá o quanto do passado ficou impregnado no presente.
A mata permanece intocada. Imagine quantas gerações passaram por essa estrada de terra. À pé, à cavalo, carroça, charrete, velhos fordinhos...
Chegamos até aqui com algumas perdas, muitos ganhos.
As fotografias contam parte das histórias...

Neta
22 de julho 2010