sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Depoimento Carmem Sylvia Alves de Lima e Motta - morou na Fazenda Paraizo de 1954 a 1987

Beatriz e Elisa Franco de Lacerda
Asdrubal Lacerda Coelho de Paula - Beatriz Lacerda - Eduardo Coelho de Paula - Elisa Lacerda - Carlos Figueiredo Mello - Marcelo Coelho de Paula - Luiz Figueiredo Mello
Elisa e Beatriz

Carmem Sylvia e José Lacerda - 1960
Frei Estevão - missa centenário - 19 de junho de 1960
Vangila Paranaguá Moniz- Beatriz Toledo Piza e Lacerda - Roberto Figueiredo Mello - Frei Estevão - José Franco de Lacerda
casa de máquinas
sala visitas
sala de jantar

1954. Foi quando começou minha nova vida no Paraizo com José Franco de Lacerda: namoro, noivado, casamento, e eis que estou de mudança para a Fazenda !! O que o amor faz acontecer...

Um enorme casarão de dois andares, jardim, horta, pomar, tudo por minha conta!

Aos poucos a rotina foi sendo feita e o dia a dia acontecendo: na cozinha, Honorata com suas panelas debaixo da pia, me fazia medo: na lavanderia, Rosária e sua filha Fátima (ou Famita assim chamada pelas minhas filhas, pois trocava as letras: laspi = lápis, mânica = máquina) era encarregada da roupa e dos quartos. No jardim, meu fiel escudeiro Alécio Vigatti, mantendo sempre varridos os caminhos, os pátios, os canteiros sempre floridos e o pomar com todas as frutas possíveis, para tapar a boca dos vizinhos!! Havia também uma figura singular, o velho Mané –, filho da escrava Felicidade, nascido de Ventre Livre com seu cachorro Japi, perambulando pelo jardim feito uma alma penada, bufando e resmungando .

Naquele tempo, a colônia era totalmente habitada pelas famílias que cuidavam do gado e do café.

Zé Mion administrava a fazenda com mãos de ferro orientado por José, que, todas as tardes no terraço da frente, ao entardecer, combinava as tarefas do dia seguinte. Isaura, sua mulher, com o famoso sorvete de creme com carambolas e Wilma, sua filha, com seus deliciosos pãezinhos, alegravam a criançada no tempo das férias.

Moacir, excelente marceneiro, formado pela Escola Industrial Paulino Carlos, fez lindos móveis com madeira da Fazenda e desenhos de José: estantes, mesas, banquetas com palhinha. Norma, sua mulher, era minha hábil costureira.

No tempo da colheita, a fazenda era só movimento: café sendo lavado e estendido no terreiro, uma parte era despolpada para exportação e a outra, colocada no vagão e encaminhada para a máquina de benefício. O café do Paraizo era muito bem cotado, “tipo 4 mole” e seguia para Santos pelo corretor Sr. Zambrano a fim de ser vendido no mercado.

No Jabaquara, em 1955 e 56, foram plantados mais 120.000 pés de café, perfazendo um total de 200.000 mudas .

No terreiro, a folia era grande: pular nos montes de café, esparramando tudo, para grande alegria dos encarregados, que tinham de amontoar tudo novamente!!

O casarão necessitava de uma reforma urgente para melhor acomodar os novos moradores, pois não se tratava mais de uma casa para passar as férias, mas sim para morar definitivamente, criar filhos, e raízes.

Havia somente um grande banheiro embaixo, a cozinha bastante antiquada, o tanque de lavar roupa do lado de fora da casa, um quarto de hóspede que dava para a sala.

José, arquiteto nato, conseguiu transformar tudo com muito cuidado, respeitando o estilo e as pinturas das portas e abaixo das janelas imitando mármore, transformando numa grande sala com lareira e jardim de inverno, dando para um pátio todo atijolado. Ficou esplêndido.

E, eis que de repente, o casarão se enche de alegria com a chegada de Elisa (nome das duas avós) em 55 e de Beatriz em 56, em homenagem à Vovó Beata, que tinha 7 netos homens !!!

Nas férias, o casarão tinha a lotação completa:Vovó Beata e sua turma: tia Stella, d.Alayde, Lúcia Sampaio Viana, Antonieta Morelli Rocha, prima Mercedes e tia Sinhá; Toty e Luly com seus sete filhotes e babás.... Era um corre corre o dia todo: café da manhâ, frutas e sucos, almoços em dois turnos (das crianças e dos adultos), lanche da tarde (para as vovós), jantar em dois turnos e lanchinho da noite para todos !!!

Na cozinha, Ana pilotava o fogão de lenha com muita maestria, e Tata, (antiga governante de José) deliciava a todos com seus sequilhos, pães de nata, biscoitão de polvilho e, nas horas vagas, fazia as célebres colchas de retalhos, tudo a mão e perfeito!! Ainda restam algumas.

Passeios a cavalo com os sobrinhos, caçadas noturnas de rãs, dedos presos em anzóis, futebol proibido para as meninas, fazendinha feita com frutas, etc.

Festa junina na tulha para os colonos com baileco animado pelo sanfoneiro, sanduíche de mortadela, quentão, fogueira no terreiro e levantamento do mastro com moedinhas na cova. Bons tempos aqueles quando se conhecia todos os empregados e havia amizade e respeito de ambos os lados.

A família dos Coelho de Paula aumentava. Nasceu Luiz Roberto, mais um menino!!! Uma casa abaixo do terreiro foi reformada, onde podiam ficar com mais espaço e melhor acomodados.

Havia sessão de teatro sob a direção de Roberto, que, com sua equipe de artistas – Leme, Celso, Max, Vergueiro – improvisava cenas hilárias, bailes ao som do órgão, jogo das palavras, mímica, queijo derretido na lareira... Assim eram as noites de julho nas férias. No verão, a piscina improvisada era o reservatório para irrigação do novo cafezal. Todos aprenderam a nadar e travar guerra de abacate. Como a piscina era de cimento e a água, escura, as mães contavam as crianças centenas de vezes para ver se nenhuma estava faltando!!! Graças aos anjos da guarda, todos sobreviveram. E a piscina virou piscina de verdade...

Ficávamos na Fazenda durante o ano todo, vindo a São Paulo nos aniversários das avós e no Natal.

As festas no Paraizo eram animadas, nosso grupo de amigos era bem diversificado: alemães, alguns músicos, professores da USP, fazendeiros e o grupo dos “onze casais”, que até hoje ainda encontro quando vou a São Carlos.

A cidade cresceu e se modernizou. Adeus ao bonde da Avenida, que volta e meia parava na subida por falta de luz, ao trenzinho da Estação Babilônia, ao carroção de leite puxado por seis mulas mineiras habilmente dirigido pelo Edmundo, pai da Ana – portador dos proibidos rapé, cigarros – para os sobrinhos e amigos! Depois vieram os primeiros supermercados em lugar das vendas...

Com a divisão do Paraizo, Toty na Santa Cruz, Luly no Jabaquara e José no Paraizo, cada um ficou com sua sede própria, para melhor desenvolverem seus projetos e acomodarem seus familiares e amigos.

Por ocasião do centenário, 1960, o casarão foi pintado, os quartos remodelados, colchas e cortinas novas, móveis consertados e banheiros novos para maior conforto geral.

Uma linda missa campal rezada pelo saudoso Frei Estevão de Piracicaba e assistida por Sérgio (Figueiredo Mello), seguida de um delicioso churrasco para 300 convidados (foto) marcaram o lançamento da pedra fundamental da capela (atualmente na tulha).

As crianças cresciam. Elisa e Beatriz frequentavam o Colégio São Carlos. No começo dos anos 70, fui convidada a prestar vestibular para Biblioteconomia!!! Imagine minha ousadia, e não é que fui aprovada? Mãe e filhas estudando, foi uma época muito divertida e proveitosa!

Os afazeres eram muitos e variados: geléias, compotas, sabão de abacate, arrumação dos muitos vasos de flores, embalagem de carne para o freezer, colheita de flores para venda no mercado, artesanato rural (feito pelas mulheres da colônia e encaminhados para o Bazar das Fazendeiras), cursos de queijos e decoração, campanha de vacinação nas fazendas, assim eram ocupados meus dias.

(primeira parte...)

Um comentário:

  1. Att. Sra. Silvia Carmen Alves de Lima e Mota
    Estou buscando parentes do Sr. Antonio Alves de Lima Junior, de São Paulo=Capital, era brasileiro, casado e em 1969 morava na Av. Republica do Líbano, 886 -Ibirapuera-São Paulo , para fins de herança. Caso tenha parentesco com este senhor, favor contate-me pelo Email: antoniodapponte@gmail.com .
    Antecipadamente grato
    Antonio da Ponte - Creci./SP 103.472

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