sábado, 6 de fevereiro de 2010

Histórias contadas por documentos...

carta de alforria da escrava Apolonia 1888

fatura loja de ferragens - São Carlos - 1898

fatura Farmácia Baruel - 1898

telegrama de Asdrubal Franco de Lacerda durante a Revolução de 1932


Digitalizando documentos, faturas, recibos, receitas médicas de Cândido Franco de Lacerda de 1898, pode-se comprovar algumas histórias contadas por Zila e pelos depoimentos. Documentos raros guardados no antigo cofre da Fazenda Paraizo por mais de cem anos.

A carta de alforria da escrava Apolonia está emoldurada e exposta num armário de vidro na Fazenda Santa Cruz de Toty Lacerda de Figueiredo Mello.

As imagens acima confirmam a construção da nova sede em 1897. Uma fatura de casa de ferragens com materiais que devem ter sido usados nos acabamentos da obra.

Outra fatura, da Farmácia Baruel, famosa em São Paulo, revela uma encomenda despachada para a Estação Floresta para onde Cândido pedia todas as entregas de produtos comprados em São Paulo.

A última é um telegrama enviado por Asdrubal Franco de Lacerda para a mulher Beatriz que estava na Fazenda Paraizo com os filhos durante a Revolução Constitucionalista de 1932.

(para ampliar cada documento é só clicar em cima das fotos)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Apresentação (para possível livro)

ex-escrava Rufina

sentadas - Toty e Cecy em pé- Luly e Heloisa

Em pé- Beatriz Piza e Lacerda sentadas- Toty e a avó Elisa

Carta de Asdrubal Franco de Lacerda para a filha Toty durante a Revolução de 1932

Toty no Paraizo - 1925

Beatriz Piza e Lacerda e a filha Toty - 1925


Fazenda Paraizo – São Carlos – 150 anos

Em 2010, a Fazenda Paraizo completa cento e cinquenta anos nas mãos da família Franco de Lacerda. Beatriz Lacerda Bacelar e Durval Bacelar que herdaram o velho casarão e parte das terras que cabiam a José Franco de Lacerda e cuidam com zelo extremado não só do casarão como de todas as benfeitorias da fazenda, resolveram comemorar a data. Pediram que eu escrevesse um pouco da história desses 150 anos.

Para contar a história da fazenda que é parte da história da cidade de São Carlos, no interior do Estado de São Paulo, coletamos histórias e memórias de pessoas que conheceram e viveram momentos na Paraizo. As lembranças, mesmo pessoais, fazem parte da história afetiva das famílias e de lugares compartilhados na memória coletiva.

Muitos registros da história da fazenda foram digitalizados - cartas, fotografias, bilhetes, diários, faturas mensais. Fotografias sem os nomes dos retratados, passaram pelas mãos dos mais velhos que identificaram um por um cada primo, tio e amigo. Alguns depoimentos foram gravados, transcritos, reescritos, relidos, modificados e serviram para “puxar o fio da memória”, trazendo à tona histórias que ficariam perdidas para sempre. Outros depoimentos foram mandados por e-mail, outros ainda, escritos em folhas de velhos cadernos, à lápis (como o de Antonio Gallo) – de uma riqueza de detalhes impressionante!

Esse resgate valioso ficará como parte da história da Fazenda Paraizo e de histórias que deram início a novas famílias, pedidos de casamento, casamentos realizados na fazenda, cadernos de receitas, mudas de árvores, móveis feitos na serraria da fazenda, festas, aniversários, amizades de vida inteira. Os documentos cedidos por Beatriz Lacerda Bacelar, com registros a partir de 1890, notas fiscais de fornecedores, cartas, procurações – são matéria prima dos sonhos para qualquer historiador. Cada registro pode confirmar histórias contadas pelos depoentes; algumas histórias passaram por várias gerações. Faturas de padarias, farmácias, hotéis, depósitos efetuados em dólar pela venda das safras de café. Encomendas feitas em São Paulo com pedido de entrega nas estações Canchim e Floresta também contam parte da história da família Franco de Lacerda e da história de São Carlos. Comprovam a importância da malha ferroviária do Estado de São Paulo e do descaso na preservação das antigas estações que ainda estão de pé...

O livro, montado a partir do blog com fotografias e depoimentos (http://fazendaparaizocentoecinquenta.blogspot.com) não pretende ser um trabalho acadêmico, mas uma coletânea de histórias vividas, lembranças de fatos, datas e lugares. Assim cada história pode ter diferentes versões com diferentes significados.

Ressaltamos, no entanto, como orientação para o trabalho, algumas leituras: o livro “Dias Ensolarados no Paraizo” de Brazilia Franco de Lacerda Arruda Botelho, diários escritos em cadernos que foram copiados à máquina e encadernados. Uma dessas cópias me foi emprestada por Toty Lacerda de Figueiredo Mello – são memórias da infância e adolescência da autora criada na fazenda que descreve, de forma preciosa, a vida no Paraizo no final do século XIX e começo do XX. Esses registros, muitas vezes, fazem parte de forma tão profunda nos descendentes, que alguns episódios foram contados como aparecem no livro.

A leitura do livro “Ruídos da Memória” da historiadora Marina Maluf (Editora Siciliano, 1995) sobre duas mulheres nas antigas fazendas paulistas foi de enorme valia: Brazilia Arruda Botelho e Floriza Barbosa Ferraz – a partir dos diários e cadernos de Brazilia e de um livro de memórias de Floriza. A leitura de historiadores, sociólogos e psicólogos sociais como Boris Fausto, José de Sousa Martins, Eclea Bosi, Eric Hobsbawn, entre outros, permitiu um olhar de historiadora sem, contudo, poder me distanciar das histórias contadas porque eu mesma virei parte da grande família do Paraizo e frequento a fazenda há quase quarenta anos.

A partir dos textos, parte dos documentos e das fotografias digitalizadas (em torno de 500) pode-se “montar” cada cena descrita, reconhecer traços familiares nos retratos no decorrer do tempo e constatar que muitas construções se mantêm como há 150 anos. Um passeio pela memória do século XIX.

Neta Mello